A questão dos estádios brasileiros é uma das mais incomodas em nosso futebol. Os nossos estádios estão muito aquém das exigências mínimas do torcedor e muito distantes em termos de qualidade quando comparados às praças em outros países. O resultado é estádios vazios, insatisfação da torcida e a perda de rendas que um equipamento do tipo podem gerar para os clubes e para a economia local.
Esta análise está dividida em quatro textos:
- Semelhanças entre o modelo italiano e brasileiro na gestão de estádios.
- Governo e Estádios Públicos x Estádios Privados.
- Atmosfera x Infraestrutura
- A Nova Fonte Nova ou a Velha Fonte Nova, qual a melhor?
Este primeiro texto mostra as muitas semelhanças que existem nos estádios italianos e brasileiros, e consequentemente, como os problemas enfrentados pelos dois países neste quesito são parecidos.
O Presidente da Federação Italiana de Futebol usa uma distinção bastante simples entre os tipos de estádios. Segundo ele, há o estádio de custo (stadio-costo) e o estádio de receita (stádio ricavo).
O estádio de custo é em geral, de propriedade totalmente pública, com seus custos sendo suportados pelo estado, sua estrutura foi desenvolvida especificamente para o futebol, baixo nível de segurança, má qualidade dos recursos, conforto e serviços oferecidos, manutenção ruim do gramado, costumam ser "elefantes brancos", pouca infraestrutura no entorno do estádio, e são utilizados apenas nos dias de jogos.
O segundo tipo, estádio de receita, é quase sempre de propriedade privada. É moderno e oferece vários serviços. Multifuncional, utilizado para outras atividades além dos jogos de futebol, é projetado para funcionar os sete dias da semana, e gera receitas de outras fontes que não apenas os ingressos em dias de jogos.
As descrições acima, foram feitas por um dirigente do futebol italiano sobre a situação do seu país, no entanto, podemos verificar as semelhanças com que ocorre no Brasil sem grandes dificuldades. A Itália como o Brasil, tem majoritariamente estádios do primeiro tipo, estádios de custo.
A razão para isto é certamente histórica. A maioria dos estádios brasileiros foram erguidas na década de 50 para a primeira Copa do Mundo realizada por aqui. Éramos governados à época pelo ditador Getúlio Vargas que nunca conseguiu esconder de ninguém sua admiração pela Itália de Mussolini. Esta proximidade é bem visível nas características arquitetônicas dos estádios dos dois países.
Estádios Italianos (Antigo San Siro, San Nicola, Artemio Franchi) Foto:montagem própria |
Estádios Brasileiros da Copa de 50 (Pacaembú, Durival de Brito, Ilha do Retiro) Foto: montagem própria |
Os estádios italianos que serviram de inspiração para os brasileiros tem a pista de atletismo e a área de segurança o que afasta o torcedor do gramado. Outra característica é o baixo conforto devido a falta de cobertura deixando o torcedor exposto ao sol e a chuva.E claro, há ainda as arquibancadas de concreto.
Os espaços também oferecem poucos serviços. Voltados exclusivamente para as partidas de futebol, os estádios italianos e brasileiros tem como fonte de receita apenas a bilheteria e em alguns casos, uma receita residual de bares e lanchonetes. O equipamento se transforma em verdadeiro "elefante branco" que funciona apenas algumas horas a cada semana quando há jogos.
Por serem de propriedade pública, em geral de prefeituras, os estádios apresentam ainda manutenção ruim. Geradores de custos para a administração municipal é comum que a conservação da estrutura seja deixada de lado. Exemplo disto estamos vendo na edição 2016 do campeonato baiano. As cidades de Feira de Santana e Vitória da Conquista, respectivamente, segunda e terceira maiores do estado estão vendo seus times locais mandarem jogos em outras praças por atrasos na reforma dos espaços, e o gramado é o principal problema.
Os países que são sem dúvida modelo na gestão de arenas são a Inglaterra e a Alemanha. Os dois países estão a frente naquilo que Michele Uva chama de estádio de receita.
A Inglaterra foi pioneira nas arenas multiuso. Seus estádios funcionam sete dias por semana. E atendem uma variedade de eventos e não apenas as partidas de futebol. Os espaços são quase todos privados. Os ingleses foram pioneiros em perceber o estádio como fonte de receita. Neles há espaços como museus, restaurantes, lojas dos clubes, em alguns shoppings, áreas de hospitalidade e de lazer para crianças, passeios para visitantes. Também são usados para outras atividades como concertos, conferências, eventos para empresas, infantis, festas temáticas.
No Old Trafford, em Manchester - Concerto e Torneio de Poker. Foto: montagem |
Os alemães se caracterizam pelas arenas espetaculares. É o caso do painel iluminado da Allianz Arena que muda de cor de acordo com o time mandante. O teto retrátil da Veltins Arena, em Gelsenkichen.
Os espaços alemães também são pensados para serem parte da vida social da comunidade e funcionarem todos os dias do ano. Nas paradas de inverno do futebol alemão os estádios chegam a ser transformados em pistas de patinação no gelo. O caso da Veltins Arena.
A Veltins Arena, casa do Schalke 04 - à direita destaque para o teto retrátil foto: montagem |
A qualidade dos modelos é observada na média de ocupação dos estádios. Segundo, a Pluri Consultoria, na temporada 2013/2014, Alemanha e Inglaterra tiveram respectivamente, 97,7% e 97,5%, de média de ocupação. A Itália aparece apenas em décimo lugar no mundo com uma ocupação média de 63%.
A Itália já acordou para o problema e vem trabalhando para modernizar os seus estádios. E a média de público vem crescendo. Saiu de 51%, em 2012, para os 63% em 2014 citados acima. O melhor exemplo, vem da Velha Senhora, a Juventus que inaugurou sua arena nos padrões de estádio receita em 2011 com capacidade para 41mil torcedores. A Juve tem uma média de público de 95% muito superior à média italiana e equivalente àquela da Inglaterra e Alemanha.
O Brasil sem dúvida, avançou um pouco nesta questão, aproveitando a Copa do Mundo de 2014. As novas arenas foram construídas no modelo multiuso.
Um bom exemplo vem do Palmeiras. O Verdão que inaugurou a sua nova arena no final de 2014, passou de uma média de público de quase 20 mil torcedores naquele ano para 30 mil em 2015, um incremento de 50%.
A Copa do Mundo nos trouxe um impulso para revermos o nosso modelo de arenas. Como veremos nos próximos textos, arenas com infraestrutura multiuso é apenas o primeiro passo para a mudança que precisamos.
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