A principal estratégia dos clubes brasileiros quando se trata de programas sócio-torcedor é eficaz? De qual maneira a lógica da ação coletiva de Mancur Olson pode responder esta questão?
O economista americano Mancur (lê-se Mansir) Olson publicou na década de 60 um livro que mudou todo o entendimento sobre a política que se tinha até então. A influência da obra foi tamanho que atingiu todo o espectro político da esquerda à direita. Trata-se do livro A lógica da Ação Coletiva que trata sobre como grupos de indivíduos com interesse comum agem para alcançar os seus objetivos.
Uma das conclusões a que Olson chegou é que quanto maior for o tamanho do grupo menor tende a ser a disposição de seus indivíduos de contribuir para o interesse comum. Neste texto, aplico esta conclusão de Olson aos clubes brasileiros de futebol, principalmente, na questão programas de sócio-torcedor. Analiso aqui a principal estratégia adotada pelos times e através da teoria do economista americano procuro responder a questão que inicia o texto. Esta estratégia é eficaz?
No Brasil, se você torce para algum clube de futebol e ele decidiu implantar um programa de sócios posso afirmar, com quase 100% de chances de está correto, que você já ouviu coisas como "associe-se para ajudar o clube a...", "se você se associar o clube será mais forte", "como sócio você ajuda o clube..." ou qualquer outra coisa próxima a isto.
O programa de sócios por aqui é vendido como uma maneira do torcedor, apaixonado que é pelo seu clube, ajudar diretamente ao time. A estratégia consiste em apelar para o senso de responsabilidade do torcedor, se você torce é do seu interesse colaborar (financeiramente) para o sucesso.
De fato, parece razoável que o torcedor pague por toda, ou pelo menos, parte das despesas da equipe, afinal é do interesse dele uma equipe mais forte e bem estruturada. E para se obter tais coisas é preciso dinheiro.
Mas, quão eficaz pode ser esta estratégia?
A obra de Olson trata exatamente sobre qual deve ser o comportamento esperado dos torcedores diante da estratégia utilizada pelos clubes para conseguir adesões a seu programa de sócios.
Olson afirma que grupos de interesse que almejam um mesmo bem comum - em nosso caso, o sucesso do time - a tendência dos indivíduos se engajarem para alcançar este bem comum diminui a medida que o grupo se torna maior.
Isto acontece porque quanto maior o grupo, menos perceptível se torna a contribuição de cada indivíduo para o sucesso. Da mesma maneira, quando os resultados alcançados são igualmente divididos por todos, desaparece o incentivo para o indivíduo se engajar. Afinal, ele acabará por beneficiar-se mesmo que não contribua nada.
Quando aplicamos o que diz Mancur Olson à estratégia mais comum utilizada pelos times brasileiros em seus programas de sócios podemos responder à pergunta inicial.
Uma torcida é um grupo de interesse, que tem nos sucessos do clubes um objetivo comum. As torcidas costumam ser grupos grandes, em que cada membro tende a se tornar anônimo no meio da multidão. De modo, que a contribuição de cada torcedor para o sucesso do time é muito pequena e quase imperceptível.
Além disso, um torcedor que não frequenta o estádio, não adquire produtos oficiais do clube, nem se associa irá gozar dos mesmos resultados que aquele torcedor engajado irá usufruir. Se o time for campeão, tanto o torcedor que faz de tudo pelo clube, quanto aquele que apenas torce à distância poderão comemorar o título.
Assim, apelar ao torcedor para se associar com o intuito de ajudar o clube, não produz qualquer incentivo real para o torcedor. E é por isto, que vemos tantos programas Brasil afora naufragarem.
Recentemente, pude conhecer mais a fundo o programa de sócios do Fluminense de Feira onde inclusive apresentei propostas de melhoria que espero sejam acatadas pelo clube. Apesar do clube ser reconhecido como tendo a terceira maior torcida dentre os times baianos, o seu programa contava com apenas 300 associados. Dos quais, apenas cerca de 80 a 100 estavam adimplentes (menos de 1/3 do total).
Isto, porém, acontece em praticamente todos os clubes brasileiros. O número de sócios é sempre muito inferior ao tamanho das torcidas. Nos times mais bem-sucedidos dos país a adesão não alcança 2% da torcida estimada do clube.
Conclusão
Assim, respondemos a pergunta inicial. A principal estratégia dos clubes brasileiros quando se trata de programas de sócios é ineficaz.
O torcedor não se sente estimulado a aderir ao programa, pois, reconhece que a sua contribuição individual teria pouco impacto no resultado final do clube, por outro lado o valor cobrado para que se associe pesaria no seu orçamento pessoal.
Nestas condições, é mais vantajoso apenas esperar que outros torcedores se engajem para colaborar com o clube. Pois, no final das contas ele receberá a mesma parcela do resultado, independente de ter colaborado ou não.
A principal estratégia dos clubes brasileiros com relação a programas de sócios
No Brasil, se você torce para algum clube de futebol e ele decidiu implantar um programa de sócios posso afirmar, com quase 100% de chances de está correto, que você já ouviu coisas como "associe-se para ajudar o clube a...", "se você se associar o clube será mais forte", "como sócio você ajuda o clube..." ou qualquer outra coisa próxima a isto.
A estratégia principal dos programas de sócios no Brasil |
O programa de sócios por aqui é vendido como uma maneira do torcedor, apaixonado que é pelo seu clube, ajudar diretamente ao time. A estratégia consiste em apelar para o senso de responsabilidade do torcedor, se você torce é do seu interesse colaborar (financeiramente) para o sucesso.
De fato, parece razoável que o torcedor pague por toda, ou pelo menos, parte das despesas da equipe, afinal é do interesse dele uma equipe mais forte e bem estruturada. E para se obter tais coisas é preciso dinheiro.
Mas, quão eficaz pode ser esta estratégia?
A teoria de grupos de Olson
A obra de Olson trata exatamente sobre qual deve ser o comportamento esperado dos torcedores diante da estratégia utilizada pelos clubes para conseguir adesões a seu programa de sócios.
Acontece que os torcedores fazem parte da Nação e partilham os sucessos e fracassos, mesmo quando não se associam |
Olson afirma que grupos de interesse que almejam um mesmo bem comum - em nosso caso, o sucesso do time - a tendência dos indivíduos se engajarem para alcançar este bem comum diminui a medida que o grupo se torna maior.
Isto acontece porque quanto maior o grupo, menos perceptível se torna a contribuição de cada indivíduo para o sucesso. Da mesma maneira, quando os resultados alcançados são igualmente divididos por todos, desaparece o incentivo para o indivíduo se engajar. Afinal, ele acabará por beneficiar-se mesmo que não contribua nada.
A teoria de Olson e os Programas de Sócios no Brasil
Quando aplicamos o que diz Mancur Olson à estratégia mais comum utilizada pelos times brasileiros em seus programas de sócios podemos responder à pergunta inicial.
Uma torcida é um grupo de interesse, que tem nos sucessos do clubes um objetivo comum. As torcidas costumam ser grupos grandes, em que cada membro tende a se tornar anônimo no meio da multidão. De modo, que a contribuição de cada torcedor para o sucesso do time é muito pequena e quase imperceptível.
E então o torcedor se pergunta: Quando torço pelo time em campo, já não estou apoiando? |
Além disso, um torcedor que não frequenta o estádio, não adquire produtos oficiais do clube, nem se associa irá gozar dos mesmos resultados que aquele torcedor engajado irá usufruir. Se o time for campeão, tanto o torcedor que faz de tudo pelo clube, quanto aquele que apenas torce à distância poderão comemorar o título.
Assim, apelar ao torcedor para se associar com o intuito de ajudar o clube, não produz qualquer incentivo real para o torcedor. E é por isto, que vemos tantos programas Brasil afora naufragarem.
Recentemente, pude conhecer mais a fundo o programa de sócios do Fluminense de Feira onde inclusive apresentei propostas de melhoria que espero sejam acatadas pelo clube. Apesar do clube ser reconhecido como tendo a terceira maior torcida dentre os times baianos, o seu programa contava com apenas 300 associados. Dos quais, apenas cerca de 80 a 100 estavam adimplentes (menos de 1/3 do total).
Isto, porém, acontece em praticamente todos os clubes brasileiros. O número de sócios é sempre muito inferior ao tamanho das torcidas. Nos times mais bem-sucedidos dos país a adesão não alcança 2% da torcida estimada do clube.
Conclusão
Assim, respondemos a pergunta inicial. A principal estratégia dos clubes brasileiros quando se trata de programas de sócios é ineficaz.
O torcedor não se sente estimulado a aderir ao programa, pois, reconhece que a sua contribuição individual teria pouco impacto no resultado final do clube, por outro lado o valor cobrado para que se associe pesaria no seu orçamento pessoal.
Nestas condições, é mais vantajoso apenas esperar que outros torcedores se engajem para colaborar com o clube. Pois, no final das contas ele receberá a mesma parcela do resultado, independente de ter colaborado ou não.
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